|
>> Colunistas > Lázaro Freire Mais uma morte na AIUASCA / Ayahuaska (daime) Publicado em: 18 de novembro de 2009, 09:54:45 - Lido 4932 vez(es) Mais um caso de morte em rituais de Aihuaska, Daime e drogas chá-maniacas similares - usadas legalmente no Brasil quando em contexto de "rituais". Nossa lei ainda confunde o inalienável respeito ao rito religioso com o endosso às substâncias psicoativas que usam, muitas vezes ministradas indiscriminadamente até mesmo a crianças, cardíacos e usuários concomitantes de outras drogas e remédios.
Pelo menos o usuário queria um atalho para se fundir com o todo, e a droga cumpriu o que prometeu. Assistam a reportagem da TV:
Ou seja, NÂO DEVERIAM TOMAR DAIME E DERIVADOS as pessoas cardíacas; ou com problemas de pressão; ou com bipolaridade (estima-se em 10% da população). E muito menos as que tomam, já tomaram ou deveriam tomar
Ou seja, mesmo que um padre acredite que seu vinho na comunhão é sagrado e o sangue de Cristo, não creio que seja boa idéia tomá-lo, se tratar-se de um alcóolatra. O daime e outras religiões merecem respeito enquanto religião, mas isso não se extende à concordância e inocuidade com as substâncias que resolverem usar. Nenhuma religião é dependente de substância, portanto, qualquer rito xamânico sério pode funcionar com ou sem o uso do enteógeno. Se quer testar se uma igreja daimista é séria, peça para visitar antes sem precisar tomar, para conhecer apenas o sagrado. Você saberá se eles permitem ou não que você participe pela religião, ou se a ingestão de drogas é o maior fundamento sagrado ali.
Entretanto, eu sempre lembrei que um índio é preparado para isso por toda uma vida, que há um aspecto cultural, que ele vive ali, e que as bebidas sagradas fazem parte de um contexto INICIÁTICO, onde é exigido do candidato um pouco mais do que ser amigo do padrinho, assinar uma lista "chá-maniaca" de internet e - é óbvio - pagar pelo menos uns 50 reais. Mas, pensando bem, eu estava errado. Talvez alguns sejam bem mais ÍNDIOS do que pareçam.
Portanto, todo respeito às religiões e seus ritos, mas isso não se extende a aceitarmos toda e qualquer substância que resolverem usar; especialmente quando isso continua matando nossos jovens, e enganando pais que pensam que seus filhos deixaram as drogas psicoativos, quando, na realidade, até transformaram uma muito mais forte que a maconha em "uso contínuo" e "religião". Pelo menos é "legal" e "patrimônio cultural", graças a um ministro da cultura bastante "imparcial", que antes fazia músicas de apologia ao "realce" e brilho onde "quanto mais 'purpurina', melhor", e que subia no palco como uma "alma que cheira (a) talco". Estamos bem! Não podemos esquecer que o LSD foi usado nos anos 60 legalmente por religiosos e psicólogos "transpessoais" como Thimoty Leary e Stanilav Grof. Na época, eram defendidos pelos mesmos argumentos viciosos dos hoje daimistas, e os usuários pediam "respeito religioso" para o uso de seus "enteógenos" (o mesmo que alucinógeno, quando usado em contexto religioso). Na época, as autoridades só se pronunciaram após mortes e surtos sucessivos. O mesmo ocorrerá com o DMT do daime, mas quantas mortes ocorrerâo, quantas famílias se dividirão, quantos pais zelosos serão injustiçados antes dessa proibição?
CUIDADO: Muitos seguidores de Stanilav Grof, o mesmo do LSD, hoje ministram e defendem o uso de daime, travestindo o uso de drogas como se fosse uma nova espécie de "psicologia", uma nova "força". Alguns deles já usavam drogas antes ou durante sua formação, daí a opção por este caminho "transpessoal". Transpessoal não implica usar drogas, vide abordagens de Assagioli, Jung e Ken Wilber. Caso um profissional se diga "transpessoal", pergunte DIRETAMENTE a ele qual a sua postura em relação a drogas, daime e Stanilav Grof antes de estabelecer um contrato terapêutico.
Por quanto tempo enganadores urbanos (tão xamânicos quanto o Corinthians Paulista) ganharão dinheiro vendendo daime e enganando jovens, levando-os fora de si a confundirem um simples transe (pré-pessoal, estado alterado primitivo presente em vários ritos mas também na histeria, drogas e hipnose) com o êxtase espiritual (transpessoal, comum a várias religiões e não propriedade de um chá, aliado do discernimento, e obtível através de esforço sincero e lúcido, em todas as tradições)???
E o rapaz cardíaco queria se fundir ao todo, ver Deus, saber como é o astral... Taí, o daime cumprindo o que prometeu. Psicanalista Transpessoal (sem daime) Espiritualista de cara limpa (dá mais trabalho, e trabalho ninguém quer ;-)
Link curto para divulgação desse artigo: http://migre.me/bSWN -- Lázaro Freire lazarofreire@voadores.com.br
|