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Revista VEJA - Matéria sobre o Santo Daime - O barato legal - ayahuasca é uma droga como qualquer outra
Publicado em: 10 de fevereiro de 2010, 00:19:37  -  Lido 6413 vez(es)



Datas

TER|26|JAN|2010

Liberado

• oficialmente pelo governo brasileiro o consumo do santo-daime, o chá lisérgico que faz a cabeça do pessoal da nova era com a promessa de abrir a seus seguidores as portas do autoconhecimento. O daime causa alucinações pesadíssimas, provocadas pela dimetiltriptamina, substância presente no cipó da ayahuasca, planta que serve de base ao daime e é venerada por seus entusiastas. O governo diz que autorizou o pessoal a ficar viajandão para respeitar a liberdade religiosa. Cabe a pergunta: se alguém criasse uma religião batizada, digamos, de Santo Pirlimpimpim, baseada em aspirações mágicas de cocaína, o Planalto também oficializaria o consumo?

http://veja.abril.com.br/030210/datas.shtml

 

O barato legal

O chá de ayahuasca é uma droga
como qualquer outra. Mas o governo
faz vista grossa

Ricardo Galhardo

 
Fotos Claudio Rossi
Cerimônia da seita União do Vegetal: quando a religião faz mal à saúde

Existe uma droga legal no país: a ayahuasca, um alucinógeno produzido pela mistura de duas plantas da Amazônia. Servida em forma de chá, ela embala há pelo menos três décadas as "experiências espirituais" dos seguidores das seitas Santo Daime e União do Vegetal. A beberagem é consumida regularmente por cerca de 15.000 pessoas, entre as quais figuraram artistas como o cantor Ney Matogrosso, o compositor Peninha e as atrizes Lucélia Santos e Maitê Proença. Essa gente diz que a ayahuasca, amarga como o diabo, permite que se tenha contato com uma dimensão divina e lorotas do gênero. Seria uma bizarrice sem importância não fosse um indicativo de como as coisas funcionam no Brasil.

Há sinais inequívocos de que a droga começa a ser consumida fora dos rituais do Santo Daime e da União do Vegetal. Em Rio Branco, capital do Acre, qualquer taxista sabe onde consegui-la. A reportagem de VEJA constatou: 1 litro do chá sai por 50 reais. É pedir e meia hora depois o produto está nas mãos do cliente. A ayahuasca também é exportada para São Paulo sob o nome vago de "chá medicinal". Informada sobre esses fatos, a Secretaria Nacional Antidrogas encomendou à Universidade Federal de São Paulo um estudo mais detalhado a respeito dos perigos da ayahuasca. Embora ainda não esteja pronto, o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, responsável pela pesquisa, adianta que a bebida de coloração ocre e cheiro nauseabundo tem efeitos semelhantes aos do ácido lisérgico. Pode deflagrar surtos psicóticos e, se combinada com outras substâncias, é capaz de provocar morte súbita. Entra aqui o dado curioso. Independentemente dos resultados do estudo encomendado pelo seu pessoal, o general Alberto Cardoso, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional e secretário nacional antidrogas, afirma: "Não proibiremos o uso do chá nos rituais. Religião é religião".

 

O cipó mariri e a folha chacrona: a substância produzida pela mistura das duas plantas é alucinógena.
Também está sendo consumida fora dos rituais

Dessa frase é possível tirar duas conclusões: a) o governo tem o hábito de solicitar pesquisas para depois jogá-las no lixo; b) se um brasileiro fundar uma religião que utilize em seu ritual maconha, cocaína, ecstasy, LSD ou crack, terá a aprovação do secretário nacional antidrogas. Afinal de contas, "religião é religião". Mas há uma razão subterrânea para a estranha tolerância em relação à ayahuasca. Trata-se de uma substância "ecologicamente correta", já que nasceu no habitat dos tais "povos da floresta". E o lobby ecoxiita em favor do chá amazônico é barulhento. Em abril passado, dois brasileiros que se diziam representantes do Santo Daime foram presos no aeroporto de Madri com 10 litros do chá. Acusação: tráfico de droga. Depois de 53 dias em cana, a polícia os soltou. Os espanhóis não suportaram a chiadeira. Mobilizaram-se pela libertação da dupla os senadores acreanos Marina Silva e Tião Viana, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Jayme Chemello, o frade dominicano frei Betto e o ex-frei Leonardo Boff. Dai-me, dai-nos, paciência.

http://veja.abril.com.br/130900/p_077.html


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