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>> Colunistas > USP pesquisa uso de santo daime como anti-depressivo natural Publicado em: 21 de novembro de 2008, 12:28:44 - Lido 6447 vez(es) --- Em keshara, André Cardoso Mota <andrecardosomota@...> escreveu > O "chá do Santo Daime", originário da Amazônia e empregado em rituais > religiosos, tornou-se a base de uma pesquisa inédita bem-sucedida da USP > (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto para tratar pacientes com > depressão. > ... A ayahuasca contém duas substâncias --harmina e dimetiltriptamina. A > harmina é uma espécie de antidepressivo, mas o que causa o efeito > imediato é a dimetiltriptanima (DMT), que gera o equivalente a um banho de > serotonina no cérebro.
Olá, André.
Eu venho repetindo a muitos ANOS na Voadores que as moléculas do DMT (princípio ativo dos chás de daime, aiauasca, aihuasca, ayahuasca) constituem um fortíssimo anti-depressivo, atuando diretamente no neurotransmissor serotonina. Há vários artigos meus a esse respeito, portanto, fico feliz com a notícia da pesquisa científica da USP.
Mas é exatamente aí a minha crítica, pois grande parte da população mundial é bipolar, ainda que leve - estima-se em 10% - e estes que tem variações de humor (entre euforia e depressão) simplesmente NÃO PODEM tomar anti-depressivos, nem mesmo em doses prozaicas mais prosaicas, o que dirá numa infusão capaz de gerar psicose.
Por outro lado, o princípio ativo pode SIM fornecer base para antidepressivos, porque não? Se serão melhores ou piores do que os já existentes, é uma questão a ser estudada. Mas isso apenas prova o fato que já falei inúmeras vezes: o princípio ativo do daime é o de uma droga psicoativa, (como as de "tarja preta"), e que se tomada em GRANDE quantidade (como nos rituais) pode provocar delírios e alucinações.
O que há de espiritual nisso, todo médium que já avaliou a questão dos hospícios já sabe, e o próprio Carl Gustav Jung já documentou bem: há muito de Deus na loucura, e vice-versa. Delírios e alucinações podem levar também a contatos com o mundo espiritual, e é isso que o daime tenta fazer, ao apresentar a loucura (e o divino) a pessoas ditas mais "normais".
O problema, a meu ver, é que isso se dá a partir de alterações cerebrais (como eu já dizia, como a pesquisa agora mostra ser evidente), e não porque as folhas são Deus. A não ser que as moléculas do Prozac / Fluoxetina, do Citalopram e da Sertralina (anti-depressivos mais conhecidos) sejam adoradas como "Deus", também.
Já fiz também, eu mesmo, a experiência. Há altos e baixos, êxtases e peias, e não raro, como esperado, vem uma forte tristeza inesperada dias após. Um religioso dirá que é a perda de contato com o divino, mas isso é melhor explicado pelo princípio dos neurotransmissores envolvidos, vide usuários de cocaina.
Algumas experiências com daime são ruins (para todos), e isso não é "peia" nem "castigo divino", e sim fases mais "down" de uma bipolaridade forte. Às vezes, após alguns dias de felicidade, vem uma sensação de vazio e depressão. E depois a pessoa volta a tomar, para retornar ao estado feliz anterior. Isso não é "reflexão", mas sim a fase depressiva da bipolaridade, do mesmo modo que um usuário de cocaina paga com tristeza e bad-trip CADA momento de extrema felicidade que teve.
É inevitável que daimistas, mais cedo ou mais tarde, encarem suas sombras e "peias" à força, e isso é demonstrável por neurotransmissores, ou seja, é tão "divino" quanto o uso de cocaina. Bipolaridade forte (tipo I) é também conhecida como "psicose maníaco depressiva", e quem induz mania forte via drogas (seja daime, seja cocaina) pode AGUARDAR que mais cedo ou mais tarde terá também a depressão (e o dano cerebral). There´s no free lunch.
No mais, fiquei muito FELIZ com essa notícia, pois é o primeiro passo para a adequada classificação do daime como droga psicoativa, de princípios popularmente conhecidos e devidamente controlados, e não como esse "mito" que "xamãs" urbanos criaram tentando transformar uma overdose de antidepressivo em alguma espécie de "Deus".
Tudo é lícito, tudo é divino.
Láz -- |
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